✮ Panamá: Um País Ou Um Canal? ➤[ Reyesvalenciennes Nª 296] |
[Texto do dia]⟶ O Panamá é um país que apresenta uma situação muito particular na América Latina: era uma província da Colômbia até 1903 , e sua independência ocorreu a partir do interesse norte-americano em construir um canal que unisse os oceanos Atlântico e Pacífico, obra pela qual a Colômbia não se interessava. A maior parte da renda do Panamá , desde a construção do canal até dezembro de 1999 (quando o governo dos Estados Unidos e o devolveu ao país), veio direta ou indiretamente do uso desse canal , que facilitou enormemente a navegação internacional , principalmente a norte-americana. Quase não existe atividade industrial no Panamá e sua agricultura é precária , apesar dos bons solos lá existentes. Grandes parte da renda do país provém dos Estados Unidos - que pagam pelo uso e controle do canal que conta o território - e da importante zona-de-livre comércio que se formou no canal. A zona de livre-comércio do Panamá é uma região onde não se pagavam impostos de importação e exportação , podendo-se encontrar inúmeros produtos do mundo inteiro - tecidos e roupas da Ásia , produtos eletrônicos dos Estados Unidos ou do Japão , computadores e acessórios de todas as marcas e procedências , alimentos industrializados e até mesmo drogas - baixos preços . É um espécie de Paraguai ampliado , na realidade a segunda zona-de-livre-comércio do mundo após a de Hong Kong. O canal do Panamá , terminado em 1914 , trouxe lucros e enormes para os Estados Unidos por dois motivos:
- cobrança de taxas dos navios que o atravessam;
- encurtamento das distâncias entre os portos norte-americanos do litoral oeste, no Pacífico (San Francisco e Los Angeles) , e os do litoral leste, no Atlântico (Nova York , Nova Orleans e Baltimore).
Além disso , ao redor do canal do Panamá existe uma faixa de terra que esteve sob a jurisdição dos Estados Unidos até 31 de dezembro de 1999, que ali mantinham tropas militares. Essas tropas , por sinal , gastavam tanto nessa zona de livre-comércio que se calcula que representavam quase 10% do PIB panamenho. Essa foi , portanto , uma área geostratégica , ou seja , importante militarmente para os Estados Unidos na época da guerra fria e da disputa com a União Soviética. Os atritos diplomáticos entre os Estados Unidos e o Panamá , no entanto , foram constantes nos anos 1980 e 1990 , tendo ocorrido o crescimento de um sentimento antinorte-americano entre a maioria da população panamenha. Esse sentimento acirrou-se em 1989 , quando tropas norte-americanas invadiram o Panamá e depuseram o ditador , general Noriega , sob o pretexto de que este controlaria o tráfico de drogas (cocaína) para os Estados Unidos. Apesar de esse general ter sido um ditador antipopular, tratou-se afinal de uma intervenção estrangeira em um país teoricamente soberano. O maior desafio que o país enfrenta no início do século XXI é o de se afirmar efetivamente como um Estado soberano ou autônomo, tanto em relação aos traficantes de drogas quanto em relação aos Estados Unidos , que controlaram o Panamá durante quase um século. A devolução da zona do canal para o Panamá , no último dia de 1999 , e a retirada das tropas norte-americanas , ao contrário do que se pensava , significaram um golpe para a economia panamenha: os militares representavam enormes gastos do comércio local e eram a garantia para a estabilidade da zona de livre-comércio . Além disso , zonas de livre comércio começam a se tornar comuns nos dias de hoje , no mundo inteiro , fato que poderia esvaziar a importância dessa área comercial , que , afinal de contas , era o principal alicerce da economia do Panamá.