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✮ Mito e Filosofia ► [Reyesvalenciennes Nª 196]

Reyesvalenciennes 2020

[Texto do dia]→    O mito é uma daquelas noções que a princípio parecem simples, mas, quando investigadas a fundo, revelam-se bastante complexas. O estudo dos mitos é complexo por duas razões : Em primeiro lugar , há muitos mitos em cada cultura ; em segundo lugar, os mitos são diferentes de uma sociedade a outra ou de uma época a outra. Logo, qualquer definição de mito sempre acaba deixando alguma coisa de fora. De acordo com o romeno Mircea Eliade (1907-1986) , um importante estudioso do tema , "[...] o mito conta uma história sagrada; ele relata um acontecimento ocorrido no tempo primordial , o tempo fabuloso do 'principio' (Mito e realidade. São Paulo: perspectiva ,1972) . Por meio de uma narrativa , o mito mostra como, pela ação de entes sobrenaturais, uma determinada realidade ou entidade passou a ter existência. Assim, há cosmogonias, isto é, mitos que descrevem o surgimento do Universo; teogonias, mitos que narram o nascimento de divindades ; assim como mitos que narram o nascimento de divindades; assim como mitos que contam a origem de um elemento do cosmo , por exemplo , uma espécie animal ou vegetal , uma conduta humana , uma instituição social, entre outros. Para os gregos antigos, por exemplo, o Universo teria se originado a partir da união de duas divindades : Urano , do sexo masculino, que representaria o Céu; e Gaia , do sexo feminino, representando a Terra. Já para os antigos egípcios , a formação do Universo começou quando uma divindade hermafrodita chamada Atum emergiu de Nun, o oceano primordial, e gerou um casal de divindades , Chu e Tefnut. A partir deste casal teve início a formação do mundo. Segundo a mitologia dos povos maias, há milhares de anos dois deuses , chamados Gucumatz e Hurakan, teriam gritado ao mesmo tempo a palavra "terra" , e a partir de então o mundo teria tido início. Como podemos perceber , ao mito a origem do mundo e de tudo o que há nele é resultado da ação de sete sobrenaturais. Uma ruptura importante em relação à visão mitológica ou mítica do mundo foi a busca dos primeiros filósofos gregos por identificar a Arché , a principal e fundamental  causa de tudo que existe. Isso aconteceu na Grécia Antiga , entre século VII e IV a.C. Nessa epoca, dependendo do filósofo  esse princípio podia ser a água , a terra , o ar ou até mesmo um "algo" indeterminado . Nesse sentido, esses filósofos davam continuidade a uma inquietação que os mitos pretendiam resolver : qual é a origem do mundo? Mas, ao mesmo tempo, a Filosofia também se desvinculou do mito, pois tratava de interpretar o mundo a partir de elementos presentes no próprio mundo, e não a partir de explicações sobrenaturais. Outra diferença importante é que o mito busca legitimidade na autoridade daquele que o narra ou em uma tradição. O filósofo , pelo contrário, busca o reconhecimento de suas ideias por meio de um processo argumentativo . Por fim, podemos dizer que a crença no mito é sempre limitada a uma cultura ou grupo de culturas em particular , enquanto as indagações filosóficas podem ser pertinentes a diversas culturas em diferentes épocas da história.  É preciso ter em mente que, embora mito e Filosofia constituam formas distintas de interpretar o mundo, na prática é bastante difícil separar uma coisa da outra. No pensamento orientam antigo, no pensamento africano ou no pensamento indígena , por exemplo, as mitologias sempre expressam uma visão filosófica . De modo análogo, muitos filósofos do Ocidente incorporam narrativas míticas às suas argumentações. Outro ponto importante a ser considerado é que devemos evitar uma concepção evolucionista , como se o mito tivesse se refinado até se transformar em Filosofia.  Se é verdade que no pensamento ocidental a Filosofia ganha certa autonomia em relação ao mito, isso não significa que uma forma de pensamento seja superior a outra. 


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