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✮ A Lógica Dialética ► [Reyesvalenciennes Nª 193]


Reyesvalenciennes

[Texto do dia]→     Até o momento nos detivemos em uma vertente dos estudos lógicos chamada lógica formal. Esta se baseia em pressupostos, entre os quais está o da não contradição. Segundo esse princípio, não se pode afirmar e negar algo ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto. Se digo que "Alfredo é músico" , não posso dizer ao mesmo tempo que "Alfredo não é músico" : ele não pode ser e não ser músico ao mesmo tempo. Assim, para a lógica formal um raciocínio só pode ser considerado correto se não incorrer em contradição. Contudo, uma outra vertente da lógica , chamada lógica dialética, não só admite a contradição, como a toma como fundamento da Filosofia. Para a Dialética , as oposições não se excluem mutuamente : pelo contrário, levam o pensamento a se aprimorar cada vez mais. De acordo com os princípios da Dialética , toda afirmação constitui uma tese, que gera própria contradição, chamada antítese. Do confronto entre tese e antítese , resulta  a síntese, como conclusão. A dialética já era estudada na Grécia Antiga , principalmente como processo argumentativo , e o uso que Platão fez dela em seus diálogos socráticos contribuiu para a popularidade o termo. Para a Filosofia platônica , seguindo o ensinamento socrático , dialética consistia em um meio para alcançar a verdade. Aristóteles desenvolveu um estudo da dialética , mas compreendendo-a de uma forma um pouco diferente. Para ele, os silogismos e os argumentos dialeticos teriam a mesma estrutura lógica , mas enquanto os silogismos partem de premissas verdadeiras, entendidas como "primeiros princípios" ("archai", em grego) , a dialética parte de opiniões geralmente aceitas (endoxa). No século XIX, porém, a dialética ganha destaque em decorrência das ideias do filósofo alemão Friedrich Hegel. Para ele, pensamento e realidade se identificam , pois, nas próprias palavras de Hegel ,"todo real é racional e todo racional é real". Na concepção hegeliana, a realidade humana , se desdobrados ao longo da história ,  só a lógica dialética permitiria a apreensão da realidade como devir, como processos. Nesse sentido, Hegel questiona o papel inferior que era atribuído à Dialética pelos filósofos da Antiguidade : 

"A dialética, que foi considerada como uma parte separada da lógica e em consideração à sua finalidade e ponto de vista, pode-se dizer, foi completamente ignorada , alcança com isso uma posição inteiramente diferente. Mesmo no Parmênides e em outras obras ainda mais diretamente , a dialética platônica também tem ora apenas o propósito de dissolver e de refutar afirmações limitadas por meio de si mesmas, ora, porém , tem em geral por resultado o nada. Frequentemente vê-se a dialética como um atuar exterior e negativo , que não pertence à questão mesma, que tem seu fundamento na meta vaidade enquanto uma mania subjetiva de abalar e dissolver o que é firme e verdadeiro ou pelo menos algo que não conduz a nada mais senão à vaidade do objeto dialéticamente tratado. " 

- Hegel, Georg Wilhelm Friedrich. Ciência da lógica (Excertos). São Paulo : Editora Barcarolla, 2011. p. 35-36.  

Portanto, ao conceber a dialética como unidade do positivo no negativo , e ao identificar pensamento e realidade, Hegel colocava a dialética em outro nível. Os filósofos Karl Marx e Friedrich Engels tomaram a dialética como fundamento da Filosofia. Para eles, a história humana é a história da luta de classes, na qual a classe oprimida se coloca como antítese da dominante. Segundo a interpretação de Marx e Engels , a dialética não é um processo "cego" , no qual forças antagônicas produzem mudanças ao acaso. Ao contrário, as transformações da dialética são dotadas de sentido. Por isso, é errôneo acreditar que o movimento dialético de tese, antítese e síntese se estenda indefinidamente , já que se dirige para um fim. No caso do materialismo dialético, teoria proposta por Marx e Engels , esse fim coincidiria com a instauração de uma "sociedade sem classes". 

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