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✮ Nafta: Mudança Nas Relações Mexico- Estados Unidos e México-America Latina? ► [Reyesvalenciennes_ Nª 118]

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[Texto do dia]→  A assinatura , em 1992, do Nafta - North American Free Trade Agreement ou Acordo de Livre Comércio da América do Norte, entre Estados Unidos Canadá, México , sem dúvida alguma assinalou importantes mudanças nas relações entre os dois vizinhos separados pelo rio Grande. Essas mudanças foram, principalmente, de caráter econômico e político. Do ponto de vista econômico , deve-se ressaltar que as chamadas "maquilladoras", até então restritas às área da fronteira , se espalham por boa parte do território do país. Maquilladoras são áreas industriais mexicanas, situadas ao norte do país , que trabalham para as multinacionais americanas . Foi possível que o México atraísse investimentos de capital de outros países estrangeiros. Isso poderia intensificar ainda mais a industrialização e a modernização do país. Do ponto de vista político, devemos ressaltar primeiramente que foi o México que propôs esse acordo com os Estados Unidos. Por sua vez, aos Estados Unidos interessa , antes de mais nada, resolver uma questão crucial : diminuir sensivelmente e até mesmo eliminar as migrações clandestinas em direção à sua fronteira , fenômeno responsável pelo aumento de problemas étnicos e econômicos nos Estados Unidos, principalmente nas grandes cidades americanas. Se as mudanças econômicas previstas pelo acordo (livre comércio) forem acompanhadas de mudanças políticas - liberdade de expressão , liberdade de imprensa, livre associação , sindicatos livres, organização de vários partidos políticos, por exemplo - , as reivindicações da população deverão transformar-se em direitos . E o México poderá vir a ser uma sociedade democrática, com um padrão de vida muito superior ao que sua população possui atualmente. Algumas resistências sérias a esse acordo partiram de Chiapas, uma região situada ao sul do México , habitada na sua maior parte por camponeses descendentes dos antigos maias e onde as condições de vida da população são muito precárias . Isso explica a resistência dessa região a um acordo definido sobretudo pelo governo do país, isto é, sob o controle do PRI , cada vez mais contestado. O governo mexicano, por sua vez, não hesitou em enviar o exército nacional para pôr fim , pela força , ao conflito. A região de Chiapas, que representa para o México quase o mesmo que o Nordeste para o Brasil, protestou veementemente contra o fato de que só o centro e o norte do país se industrializassem , enquanto o sul permanece com sua economia atrasada. A conquista da democracia pressupõe também a elevação do padrão de vida da parcela composta pelos vários grupos indígenas do país, que representa pouco mais de um quarto do total da população. Isso interessa de maneira particular à sociedade mexicana, mas não resta menor dúvida de que "o grande irmão do norte" pressionou nesse sentido. Em outras palavras, o aprofundamento das relações entre os dois países , nos vários campos da atividade humana, e os rumos do próprio Acordo de Livre Comércio da América do Norte dependem basicamente da democratização da sociedade mexicana. Portanto, o sucesso do México pode estender, gradativamente, esse acordo aos demais países da América Latina. Por fim, pode-se perguntar se a assinatura desse tratado , na medida em que envolve os dois países da América Anglo-Saxônica, desenvolvidos, e um país da América Latina, industrializado mas subdesenvolvido , não assinalaria o início de mudanças significativas nas relações entre os países do Norte e os países do Sul. Afinal, os países desenvolvidos costumam fazer acordos de livre comércio apenas entre si e essa é a primeira experiência que inclui um país do Terceiro Mundo. Contudo, há bons motivos para os Estados Unidos incluírem o México no Nafta: em outras regiões do globo os mercados internacionais avançaram (principalmente na Europa), portanto, ou os Estados Unidos tomam a dianteira no continente americano, a começar pela América do Norte , ou futuramente a União Europeia ou o Japão poderão fazer isso. Além disso, a grande preocupação dos países ricos naquele final de século é com o desemprego e os milhões de imigrantes que recebem todos os anos - o que aumentou o desemprego e o racismo em suas populações. Investir em algumas regiões do Sul foi uma maneira de criar empresas nesses países pobres e assim evitar novas migrações para o Norte. O caso do México, dessa forma, representa uma experiência nesse sentido. Trata-se de gerar empregos no México para manter por lá os milhões de mexicanos e latino-americanos em geral que todos os anos procuram entrar (legal ou clandestinamente) nos Estados Unidos. 

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