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➤ A Importância Das Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa Em Nossa Formação Cultural

Reyesvalenciennes 2019


[TEXTO DO DIA]→  Com uma circulação muito reduzida entre nós , as literaturas africanas de língua portuguesa podem se tornar um excelente caminho de aproximação com matrizes importantes da nossa formação cultural. A leitura de autores como Agostinho Neto, Baltasar Lopes , Germano de Almeida , José Caveirinha , José Luandino Vieira , Luís Bernardo Honwana , Pepetela , Mia Couto , Noémia de Sousa , Ruy Duarte de Carvalho e Uanhenga Xitu , entre tantos outros , possibilita a entrada em mundos que , guardando hoje tantas diferenças , estão presentes na construção da nossa identidade. Conhecer (e reconhecer) a África por meio de homens e mulheres que produzem arte ajuda-nos a compreender a nossa própria História e os impasses que temos que enfrentar no processo de conquista de uma sociedade mais justa. Mesmo envolto em nuvens de equívoco , o Brasil, sobretudo a partir dos anos 1940 , funcionou como um porto de utopias e essa imagem desempenhou um papel determinante na condução da luta pelas independências. Escritores como Jorge Amado , Manuel Bandeira , Graciliano Ramos ,José Lins do Rego, Carlos Drummond de Andrade e Guimarães Rosa marcaram profundamente o imaginário de seus colegas da outra margem do Atlântico e daqueles que tinham o oceano Índico como limite. Essa ex-colônia , que tinha conquistado sua independência e abrigava tantos filhos da África , parecia um exemplo a ser seguido. Ao catalisar simpatia , impulsionava a esperança tão necessária. O conhecimento das literaturas africanas permite , dessa maneira , descobrir outras faces do país em que vivemos.  Esse significativo repertório, além do mais , nos põe em contato com maneiras muito variadas de fazer da língua portuguesa um instrumento de expressão de tão diferentes modos de estar no mundo. A partir de diversas formas de apropriação da sintaxe e da renovação do léxico , os africanos vão assegurando novos contornos à língua que herdaram num doloroso e prolongadíssimo processo de dominação colonial. Aprendendo bem a concepção de modernismo brasileiros , escritores de Angola , Cabo Verde , Guiné-Bissau , Moçambique e São Tomé e Príncipe investiram e investem seu talento em operações criativas cujo objetivo é aproximar a língua literária das modificações que os falantes impõem ao idioma no jogo do cotidiano. Libertam-se , assim, de outras amarras legadas pelo colonialismo. Ignorar essa produção significa desconhecer formas vivas e interessantes da nossa própria língua que os povos africanos ajudam a enriquecer. -Depoimento escrito especialmente para a Coleção da Prof(a). Dra. Rita Chaves - Diretora do Centro de Estudos Portugueses da Universidade de São Paulo.

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