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➤ Privacidade , Família e Distinção Social

Reyesvalenciennes - Fotografia de Fevereiro de 2019


[TEXTO DO DIA]→ O novo mundo burguês veio acompanhado por uma separação mais profunda entre o público e o privado. O mundo privado e a subjetividade foram consolidados por uma avalanche de diários, biografias e confissões e pelo novo "sonho de consumo" do século XIX: a possibilidade de se ter um quarto próprio. Os avanços da higiene e da musicalização da família influenciaram na distinção entre o dentro e o fora de casa e na consolidação da ideia do mundo privado do "lar", doce lar". A moradia passou a ter um peso importante tanto como confinamento residencial e apresentação pública do status quanto como fundamento material do ideal de família . Ter uma casa com jardins , rodeada de verde e afastada do Centro da cidade, tornou-se um ideal para burguesia europeia ascendente . Interinamente , os objetos e a decoração demonstravam e possibilitavam a aspiração a um lar harmonioso, cercado por símbolos de status e sucesso. Enfeites, tecidos , cortinas, almofadas, um piano e uma pequena biblioteca compunham um ambiente acolhedor . Esses objetos , somados aos novos costumes de higiene (sabonete, latrina e banheira) , propiciaram algum conforto aos burgueses , segundo Eric Hobsbawm, somente no final do século . Essa sociabilidade mais íntima dos espaços domésticos veio acompanhada por um discurso que revalorizava a família como unidade social básica. Nos discursos do século XIX, a família nuclear , que energia de sistemas de parentesco mais amplos, era fortalecida em sua dignidade e seu poder. Era dela que dependiam a transmissão de todo um patrimônio material e simbólico de reputação e, ao mesmo tempo, o funcionamento de toda a sociedade, pois o lar era a representação do acolhedor lugar da felicidade e da paz , em oposição à competição constante do mundo externo. Como chave da felicidade universal e do bem público , a família foi projetada sob uma autocracia patriarcal . Esse Centro do mundo privado devia ser regido por uma hierarquia de dependência pessoal , submetida, em última instância, ao pai de família . O ideal de mulher burguesa passou a preconizar, então, um estilo de vida essencialmente doméstico, em que a feminilidade estava assentada na dependência econômica do marido. Entretanto, foi no seio dessa mesma sociedade burguesa que os ideais de emancipação das mulheres se desenvolveram. O crescimento do planejamento familiar , com a diminuição do índice de natalidade e o aumento do espaço feminino no mercado de trabalho - em lojas, escritórios e no magistério do ensino primário-, no final do século , criou novas oportunidades para as mulheres da pequena burguesia. Embora a condição para a maioria das mulheres não tenha mudado intensamente no século XIX, nesse período , assistiu-se aos primeiros passos do desenvolvimento de um feminismo sistemático, que lutava espacialmente pelos direitos de participação política. Os frutos desse esforço foram colhidos no século seguinte. A nova realidade da família proporcionava também um investimento maior - afetivo e, principalmente, econômico e educativo - nos filhos. Com um ensino primário, financiado ou promovido pelo Estado, cada vez mais universalizado , a continuidade da educação formal tornou-se um sinal de distração para aqueles que tinham condição de adiar a tarefa de ganhar a vida. De gato, a educação secundária e , depois, a universitária cresceram rapidamente entre a classe média e o grau de instrução somava-se à prática do esporte, às ligações sociais e às propriedades como mais um fator de diferenciação em tempos de direitos iguais perante a lei.



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