- Texto Trazido Por ReyesValenciennes
[TEXTO DO DIA]→ Desde a época da Reconquista , as monarquias ibéricas justificavam suas ações militares como verdadeiras missões a serviço de Deus. A conquista de terras no além-mar parecia confirmar a crença generalizada de que haviam sido escolhidos para a luta contra os infiéis e a propagação da doutrina cristã. Como instrumentos da Providência Divina , os ibéricos substituíam os hebreus na condição de povo escolhido de Deus. Ao mesmo tempo que eram atribuídas características missionárias às monarquias ibéricas, quanto mais a identidade cristã e reforçada, mais difícil tornava-se a convivência entre a população cristã e os seguidores de outras religiões , principalmente os judeus. As perseguições ao judeus foram retomadas nos momentos em que as conquistas militares desfraldaram a bandeira da religião. Foi o caso das Cruzadas (séculos XI a XIII) e da expansão marítima (séculos XV e XVI) . Ao longo da Idade Média foi elaborado um conjunto de representações antijudaicas que alimentava concepções fantasiosas e estimulava ações violentas contra essas comunidades. Vistos como responsáveis pela morte de Cristo , os judeus eram acusados de praticar magia negra , de preparar poções mágicas capazes de provocar a peste bulbônica, de sacrificar crianças cristãs nas noites de Natal e de profanar símbolos sagrados. A partir do século XV a situação dos judeus tornou-se particularmente difícil na península Ibérica. Em 1492 , ano da primeira viagem de Colombo , foi anunciada a obrigatoriedade da conversão dos judeus ao cristianismo na Espanha. As perseguições levaram milhares de judeus a fugirem para outras regiões europeias , principalmente para Portugal e França. Pouco tempo depois , a onda de segregação e violências que também se verificava em terras lusitanas culminou na imposição da fé cristã às comunidades judaicas , em 1495. Criavam-se na península Ibérica duas novas categorias sociais : o cristo-velho , que havia gerações professava a religião cristã, e o cristão-novo , judeu recentemente convertido ou que tinha algum parente judeu entre seus avós e bisavós. Entre os cristãos-novos , duas outras diferenciações: o converso , sempre suspeito de judaísmo , e o marrano, que mantinha sua fé original mas praticava exteriormente a religião cristã apenas para sobreviver. Por perversa ironia , num momento de desenvolvimento técnico que permita as navegações, num contexto de valorização da capacidade humana de ampliar seus conhecimento e expressar-se pela arte, ocorreu um processo de desumanização que não se restringiu ao Novo Mundo. Os judeus eram descritos como porcos nas representações da época , tiveram suas terras tomadas e submeteram-se a uma agressiva evangelização. Restavam ainda os negros africanos, que cada vez mais passavam a ser transpostos para a América para produzirem as riquezas coloniais. A estes estava reservado um destino não menos cruel e desumano.