Reyes Valenciennes numa imagem de novembro de 2017. |
[ Texto do dia ]→ Em 1847, o senador liberal Nicolau de Campos Vergueiro dava início a uma experiência de substituição de escravos por homens livres. Custeando a viagem de imigrantes alemães e suíços para suas fazendas em São Paulo, Vergueiro introduzia a contrato de parceria , por meio do qual os trabalhadores tornavam-se "sócios" da produção cafeeira de suas propriedades. Aparentemente o negócio era vantajoso para os trabalhadores: tinham a viagem marítima e o transporte do porto de Santos até a fazenda financiados; recebiam mantimentos e instrumentos para o trabalho, num número determinado de pés de café para o plantio , acompanhamento e colheita, um pequeno pedaço de terra para o cultivo de gêneros alimentícios e uma casa rústica para sua moradia. Em troca, deviam dar ao proprietário metade metade da produção de seus pés de café e não podiam deixar a fazenda até reembolsar todos os gastos assumidos pelo fazendeiro. Na verdade , o trabalhador já iniciava sua jornada no Brasil endividado. Durante quatro anos - tempo médio para a primeira colheita de um pé de café- o imigrante aumentava seu débito , sobre o qual eram cobrados juros , podendo contar apenas com a sua plantação de gêneros alimentícios. Apesar de imitada por alguns fazendeiros de São Paulo , a experiência de Vergueiro não trouxe os resultados esperados. Mesmo assim, em 1855, havia cerca de 3.500 imigrantes trabalhando em 30 fazendas da províncias. Na maioria das vezes o trabalho livre coexistia com a escravidão , embora os fazendeiros tenham estabelecido desde o início uma certa divisão técnica das tarefas. O preparo do solo para a plantação de novos pés de café e de alimentos para o consumo da fazenda continuava a ser realizado por escravos. O fracasso do sistema de parceria decorria principalmente do padrão escravista nas relações de trabalho no Brasil. As dívidas contraídas eram o principal meio que os fazendeiros dispunham para obrigar seus trabalhadores a executarem suas tarefas. No entanto , ao contrário do que ocorria na Europa , na época , e no Brasil de hoje, os proprietários não poderiam simplesmente despedir um trabalhador que considerassem inconveniente ou preguiçoso e trocá-lo por outro disponível no mercado. Não havia uma reserva de mão-de-obra livre no país que se dispusesse a executar as "tarefas de negros escravos". O investimento inicial nos imigrantes , que se dispunham a atravessar o Atlântico e a se dedicar aos trabalhos manuais, deveria ser recuperado por meio da produtividade dos próprios imigrantes. O cumprimento dos contratos , que acarretava uma limitação da liberdade desses trabalhadores , e a dificuldade de saldar as dívidas os desmotivava. Ao contrário do que faziam com os escravos , os fazendeiros não podiam usar a força e a violência para obrigá-los a trabalhar.