Reyes Valenciennes numa imagem constituída no dia 19 de novembro de 2017. |
[Texto do Dia]→ Os cuidados da Coroa com relação a movimentação separatistas não impediram que em 1798 a Bahia fosse sacudida por uma verdadeira revolução. A Revolta dos Alfaiates, como ficou conhecida, iniciou-se a partir de um núcleo de letrados e oficiais que se reuniam numa sociedade secreta denominada Cavaleiros da Luz. Os militares Hermógenes Pantoja e José Gomes de Oliveira , o letrado José da Silva Lisboa, o padre Agostinho Gomes, o farmacêutico Ladislau Figueredo Melo, o médico Cipriano Barata, o professor Moniz Barreto e o senhor de engenho Inácio de Siqueira Bulcão, entusiasmados com a leitura de obras da ilustração , pretendiam proclamar a independência da Bahia e adotar o regime republicano. Como forma de realizar seus planos, dedicaram-se a propagandear suas idéias a outros setores da sociedade baiana: pequenos artesãos, modestos comerciantes , militares de baixo escalão e homens livres pobres. Em virtude do descontentamento daqueles que não podiam desfrutar das riquezas produzidas na Colônia e que não tinham perspectiva de ascensão social, a propaganda surtiu efeito. Com frequência, começaram a ocorrer agitações nas ruas de Salvador e, com o tempo, a direção do movimento foi passando da elite branca para as mãos da população mulata. Liderada pelos soldados Lucas Dantas e Luís Gonzaga das Virgens , pelos alfaiates Manuel Faustino dos Santos Lira e João de Deus , e pelo ouvires Luís Pires , a revolta tornou-se mais radical. Em agosto de 1798 panfletos manuscritos foram distribuídos em Salvador em nome do "supremo tribunal da democracia baiana". Neles encontrava-se o programa político do movimento: independência , república, liberdade de comercio entre as nações , separação entre Igreja e Estado , e igualdade de direitos independentemente das diferenças raciais. A nítida inspiração nas medidas adotadas na França pós 1792, período em que as investidas dos revolucionários franceses tornaram-se mais radicais, levou os baianos a questionarem a escravidão. Em alguns manifestos falava-se na libertação de mulatos e negros e no fim da escravatura. A satânica ideia de liberdade ameaçava o império de Deus por Portugal. A circulação dos panfletos chamou a atenção das autoridades da capitania. As suspeitas , que inicialmente recaíra sobre o mulato Domingos da Silva Lisboa , em escriba profissional, logo levaram ao soldado Luís Gonzaga das Virgens que, sob tortura , foi instigado a deletar seus companheiros. Os alfaiates , antes que pudessem deflagrar a revolta , muitos de seus participantes foram presos e indicio numa devassa que envolveu 33 pessoas : 22 mulatos , 10 brancos e 1 negro.